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Dedicação às urgências e emergências médicas do dia a dia.



Há motivo para pânico?

Não há motivo para pânico. É preciso ter responsabilidade, pois a disseminação do vírus é rápida. A gente está vendo países onde houve atraso em relação às medidas tomadas, o que vem gerando mais mortalidade, hospitais lotados, falhas no sistema de saúde que está abarrotado e exaurido. A Itália é um exemplo bem clássico disso: faltam leitos e não há ventilação mecânica para quem precisa. Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde está fazendo um bom trabalho e já se planeja para transformar leitos de enfermaria em leitos de UTI em algumas cidades. 

É necessário também conscientizar os idosos, especialmente aqueles com mais de 80 anos que são os principais atingidos pela mortalidade da doença. Eles devem evitar aglomerações, reforçar a higienização das mãos, evitar tocar a face e trocar objetos pessoais com outras pessoas. Isso não é pânico, é precaução e responsabilidade.

O que se sabe sobre a transmissão e incubação da doença?

Tudo ainda é muito novo. O que a gente sabe é que o período de incubação está variando entre 5 e 12 dias, na maioria das vezes. E a maior parte das pessoas tem sintomas bem leves. Os estudos estão indicando que as pessoas transmitem o vírus, pelo ar e através da saliva, por até 7 dias após o início dos sintomas. Em relação ao paciente que necessita de internação, a conduta indicada é o isolamento respiratório. 

Existe alguma conduta de prevenção que ajude a impedir que a doença evolua para casos mais graves?

Os pacientes que chegam a um quadro grave são geralmente aqueles com mais de 60 anos, principalmente homens, e que possuem comorbidades associadas. Eles têm doenças de base, muitas vezes doenças cardiopulmonares. 

Para prevenir o contágio, é preciso higienizar bem as mãos e evitar áreas de muita aglomeração, especialmente em regiões onde há transmissibilidade alta. Também é preciso manter a “etiqueta da tosse”: cuidar para cobrir a boca com a mão, preferencialmente com lenço descartável. Importante evitar o compartilhamento de objetos de uso pessoal, como copo, talheres e o próprio celular. O álcool gel é eficaz e essencial, especialmente para quem usa transporte público.

O que os estudos mais recentes apontam em relação à pandemia?

O olhar criterioso da ciência vai apontar agora para o retrovisor a fim de conseguirmos entender o comportamento dessa doença e desse vírus. Mas levantamentos já indicam que os países que investiram mais cedo em prevenção e assumiram conduta mais enérgica, tiveram menor taxa de transmissão da doença e também de mortalidade. Então, tudo leva a crer que é preciso mesmo agir com precocidade para evitar danos maiores. 

Como deve ser o manejo clínico do paciente com suspeita da doença?

Isso vai depender da maneira como se apresentar o caso. A maior parte está se apresentando de forma muito leve: coriza, tosse e febre baixa. Nesses casos, a pessoa deve permanecer em isolamento domiciliar, orientada para que fique em um ambiente arejado, de preferência em um quarto separado do restante da família, usar máscara para manter contato com as pessoas, não compartilhar objetos pessoais e nem o telefone celular. Nos casos mais graves, onde se verifica dispneia e queda da saturação, aí sim é preciso manter no hospital, se necessário em Unidade de Terapia Intensiva, com isolamento adequado e conduta de suporte de vida, já que não há tratamento específico para o coronavírus.

Como agir em relação a idosos e crianças?

Os idosos preocupam bastante, porque têm sido o grupo onde é maior a letalidade da doença. Especialmente acima dos 80 anos. O percentual de óbito no idoso fica em torno de 15 a 18%, bem diferente da população geral, abaixo dos 60 anos, onde essa taxa não passa de 2% a 3,5%, a depender da faixa etária. Em relação às crianças, o curioso é que têm sido menos acometidas e com poucos casos graves.

Aliás, em adultos, idosos e crianças é muito importante que a vacinação esteja em dia. É preciso tomar vacina para influenza todos os anos. Porque eu estou falando disso? Porque a vacina irá prevenir influenza, ou diminuir a gravidade dos casos. Isso vai também diminuir a quantidade de pacientes que procura os serviços de saúde e facilitar as equipes na identificação dos casos de COVID-19. 

E no caso de gestantes?

Diferente do que aconteceu com a epidemia do H1N1, não têm sido registrados casos graves de COVID-19 em gestantes. Portanto, elas devem tomar os mesmos cuidados da população geral. Apesar de ainda não ser uma orientação do Ministério da Saúde, há um protocolo internacional para que, em casos respiratórios, a gestante seja internada para acompanhamento, dela e do bebê. Em casos suspeitos, mesmo que sem sintomas, é indicado fazer a investigação do vírus. 

Existe medicação específica nesses casos?

Não existe medicação específica para o coronavírus. Estão sendo realizados testes com inúmeros antirretrovirais, como a cloroquina nas pneumonias graves. Mas não há ainda nenhum medicamento validado para o coronavírus. As formas leves da doença não há necessidade de tratar, é uma doença autolimitada.

Quais são as orientações para proteção dos profissionais de saúde?

Os profissionais devem seguir o protocolo implantado no seu serviço de saúde, ou seja, fornecer a máscara cirúrgica, de preferência antes de triar o paciente, na chegada dele à unidade. Quando for identificado um caso suspeito, o paciente deve ser colocado em leito de isolamento respiratório. A partir daí deve-se seguir com o fluxo: coleta do swabs de nasofaringe e orofaringe para investigação do Ministério da Saúde. Se o protocolo for bem implantado e a equipe estiver bem treinada, o profissional de saúde vai ter mesmo o risco de contágio da população geral. 

Já existe previsão de vacina contra o novo coronavírus?

Não há ainda vacina para o coronavírus, mas há várias pesquisas no mundo. Acreditamos que nos próximos 9 meses a um ano já tenha sido desenvolvida uma vacina específica para esse vírus, o SARS-COV-2.